Empresários e gestores ligados às Tecnologias de Informação afirmam que já não há impedimentos à migração para ‘cloud’, tanto orçamentais, como de segurança.
Os empresários e gestores estão a reconhecer cada vez mais a importância da cloud para o seu negócio. Os dados recolhidos pelo Jornal Económico (JE) junto de várias empresas de software mostram que o segmento de negócio da nuvem registou um crescimento de entre 30 a 50% nos últimos relatórios e contas divulgados (trimestral e/ou semestral, consoante a tecnológica). A ideia da falta de segurança e da despesa elevada parece ter sido desmistificada e há empresas dispostas a investir milhões de euros por ano para ter todas as aplicações e dados na cloud em Portugal.
No entanto, a decisão não é viável para todas simplesmente pelo facto de a computação na nuvem ter passado a dominar a agenda mediática tecnológica. Os agentes de mercado ouvidos pelo JE sugerem que se faça uma análise custo-benefício para cada caso em específico, bem como uma avaliação sistemática e exaustiva que inclua na equação custos de propriedade, de migração/implementação e legais. A poli-cloud, que agrega várias clouds públicas e privadas, deverá ser uma das opções a ganhar tração este ano. O termo ainda é mais recente e tem exigências concretas associadas, pelo que os especialistas aconselham a configurar cada uma das nuvens dentro da ‘nuvem-mãe’, o que pode ter efeitos benéficos no modelo comercial.
A utilização da cloud nas empresas é uma questão que Rogério Canhoto, Chief Business Officer da PHC Software, designa de “darwinismo digital”. “Hoje, com o crescimento da economia da subscrição, a tendência é de se adquirir o acesso ao que precisamos, desde os meios de transporte, habitação e música passando pelos filmes, e o software de gestão não é exceção. Caminhamos para uma economia de pagar para usufruir e não para ter”, argumenta, em declarações ao semanário.
As startups e Pequenas e Médias Empresas (PME) partem da pole position na migração para a cloud, porque não têm um grande histórico tecnológico e demonstram uma ânsia superior em fazer escalar os seus negócios – não fossem algumas chamadas scale-ups. Apesar de o principal obstáculo à adoção da cloud por parte das organizações não ser meramente orçamental, as de maior dimensão ou mais tradicionais tendem a fazer testes primeiro.
Segundo João Borrego, Solutions Engineer Senior Manager da Oracle Portugal, “normalmente começam por departamentos mais pequenos, projetos de inovação ou até por desafios lançados aos colaboradores”. No ano fiscal que terminou em maio, a Oracle Portugal teve um crescimento no segmento de cloud acima dos 50%. “Encontrámos os principais entraves à cloud pública em temas regulatórios (financeiro, saúde ou até administração pública) e também no legado de Tecnologias de Informação (TI) que existem nos clientes, sendo que mesmo o tema regulatório, por vezes, é preconceito”, afirma.
Carlos Vidinha, principal da Capgemini Portugal, considera que este é um “fenómeno irreversível” na indústria de TI, sobretudo porque prevê que o mercado vá evoluir em termos de maturidade da oferta e de sofisticação da procura. “Diversos fatores (racionalidade económica, prioridades de negócio, regulamentação setorial, legislação nacional e internacional, segurança e privacidade de dados…) podem concorrer para a adoção da cloud de diferentes formas, mas a médio prazo é inevitável a prevalência deste modelo de negócio junto de todas as organizações e indivíduos”, defende. Nos primeiros seis de 2019, entre 50% a 60% do volume de negócios desta multinacional francesa correspondeu a serviços ligados à cloud computing, mais cerca de 35% do que em igual período do ano passado.
A subida verifica-se porque há empresas que estão dispostas a reformular totalmente os seus processos para implementarem um sistema cloud native, contudo, como investiram consideravelmente no seu hardware on-premise (do qual continuam a depender) acabam por optar por ambientes híbridos, conforme explica Dave Hazard, vice-presidente de canal e operações de vendas da Fujitsu EMEA. Geralmente, as tecnologias nativas da nuvem servem para desenvolver aplicações criadas com serviços ‘empacotados’ em containers (objetos que contêm outros objetos) e servem para agregar novas funcionalidades, como feedbacks dos utilizadores.
A Google, que nasceu na nuvem, recusa que haja impedimentos à migração para a cloud. Aliás, a plataforma Google Cloud foi o terceiro maior driver de crescimento de receitas trimestrais da gigante norte-americana Alphabet. Para Jorge Reto, diretor da Google Cloud em Portugal, apenas existem empresas que ainda não se debruçaram “convenientemente” sobre o tema de forma a serem capazes de delinear uma estratégia. “Em Portugal, por exemplo, temos vindo a ajudar a inovar empresas de todas as dimensões e quase todos os setores: da saúde à energia, passando pelo retalho, turismo, indústria automóvel, entre outros. Mas há ainda grandes oportunidades para explorar”, assinala.
Filipe Costa chegou à subsidiária portuguesa da SAP este verão para liderar e expandir o negócio cloud e definir uma estratégia para o país. Na sua opinião, a transformação digital do tecido empresarial passa pela “adoção rápida” da cloud, transversal aos vários departamentos e indústrias. “É um negócio firmado em Portugal, que se encontra em alguns aspetos acima das nossas melhores expectativas. Por exemplo, no ano passado o negócio de cloud representou mais de 25% do total das vendas de software. Se analisarmos sob o prisma de novos projetos, então, a percentagem é muito superior”, refere. A tecnológica, que só publica valores globais, viu as suas receitas na cloud crescerem 38% em 2018, para 5,03 mil milhões de euros, e espera que no final do ano o montante faturado seja de 6,7 a 7 mil milhões de euros.
Fonte: O Jornal Económico